No dia 20 de abril de 2025, o Brasil perdeu uma de suas vozes mais autênticas do samba. Cristina Buarque, cantora, compositora e referência no resgate do samba de raiz, faleceu aos 74 anos no Rio de Janeiro. A notícia, confirmada por seu filho Zeca Ferreira nas redes sociais, comoveu fãs, artistas e autoridades, como o presidente Lula, que destacou seu “papel extraordinário” na música brasileira. Lutando contra um câncer de mama diagnosticado há cerca de um ano, Cristina deixou um legado imenso, marcado pela devoção ao samba carioca e pela valorização de compositores menos conhecidos. Confira sua trajetória, homenagens e o impacto de sua perda.
Uma Vida Dedicada ao Samba
Nascida em 23 de dezembro de 1950, em São Paulo, Cristina Buarque era filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Irmã de Chico Buarque, Miúcha (morta em 2018) e Ana de Hollanda, ela cresceu em um ambiente cultural rico, mas trilhou seu próprio caminho com discrição e paixão pelo samba. Moradora da Ilha de Paquetá, no Rio, nos últimos anos, Cristina era avessa a holofotes, preferindo garimpar pérolas musicais e preservar a essência do samba tradicional.
Seu primeiro álbum, “Cristina” (1974), trouxe interpretações marcantes de canções como “Tatuagem” (Chico Buarque e Ruy Guerra), “Ao Amanhecer” (Cartola) e “Comprimido” (Paulinho da Viola). Ao longo de cinco décadas, lançou discos dedicados a nomes como Nelson Cavaquinho e Geraldo Pereira, consolidando-se como guardiã do samba de raiz.
Projetos e Parcerias Memoráveis
Cristina participou de projetos coletivos que enriqueceram a música brasileira. Em 1987, gravou um compacto duplo com Mauro Duarte, considerado um marco do samba. Nos anos seguintes, integrou homenagens a Candeia, Paulo da Portela e à Velha Guarda da Mangueira. Em 1998, participou do CD “Chico Buarque de Mangueira”, e, em 2003, cantou “Derramando Lágrimas” no projeto “Um Ser de Luz – Saudação a Clara Nunes”. Seu show “Cristina Buarque e Terreiro Grande” (2007), em São Paulo, sob direção de Homero Ferreira, também foi aclamado.
Uma Voz Autêntica do Samba Carioca
Cristina Buarque foi mais do que uma intérprete: ela foi uma pesquisadora incansável, trazendo à tona compositores dos morros cariocas e preservando a poesia do samba. Como destacou a deputada Jandira Feghali, sua voz “autêntica e generosa” inspirou gerações. Sua trajetória, centrada na fidelidade aos fundamentos do samba, contrastava com a fama de seus irmãos, mas conquistou respeito unânime no meio musical.
O presidente Lula enfatizou que Cristina ajudou “a poesia e o ritmo dos morros do Rio a conquistarem os corações dos brasileiros”. Sua discografia, com álbuns como “Na Eira” (1980) e “Sinhá Capoeira” (1985), reflete esse compromisso com a tradição e a inovação dentro do gênero.

Homenagens e Reconhecimento
A morte de Cristina gerou uma onda de tributos. Chico Buarque publicou um vídeo nas redes sociais com uma parceria musical entre os dois, acompanhado apenas da legenda “Cristina”. O ator Humberto Carrão relembrou um encontro marcante, destacando um autógrafo de Cristina em um disco de 1987, com a frase: “Espero que esse seja o último autógrafo e que você mostre isso pra todo mundo quando eu tiver morrido”. A atriz Silvia Buarque, sua sobrinha, também prestou homenagem, reforçando o impacto familiar e artístico.
Velório e Cremação
O velório e a cremação de Cristina Buarque ocorreram no dia 21 de abril de 2025, no Crematório Memorial do Carmo, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. A cerimônia, restrita a familiares e amigos próximos, marcou a despedida de uma artista que viveu para o samba e deixou sua marca na cultura brasileira.
Impacto da Perda
A morte de Cristina Buarque representa a perda de uma das grandes guardiãs do samba tradicional. Sua ausência será sentida por sambistas, fãs e todos que valorizam a música como resistência e beleza. Como disse Jandira Feghali, “sua voz permanece viva em cada canto que ecoa verdade”. Sua discografia e contribuições coletivas continuam disponíveis em plataformas de streaming e acervos culturais, garantindo que seu legado perdure.
Cristina Buarque foi uma força silenciosa, mas poderosa, na música brasileira. Sua dedicação ao samba de raiz, sua generosidade artística e sua trajetória discreta deixam um vazio, mas também um exemplo de autenticidade. O Brasil chora a perda de uma sambista única, cuja voz seguirá ecoando nos morros e nos corações. Para conhecer mais sobre sua obra, busque seus álbuns em plataformas digitais ou acervos como o Instituto Moreira Salles.